terça-feira, 9 de setembro de 2008

A Estratégia das Pantufas

Publico um artigo de Armando Pastore Mendes Ribeiro - Director da PENSARE - Consultoria, Treinamento e Promoção de Eventos de Coritiba - Brasil:

O Zé era um chefe rígido, controlador, autoritário e por vezes mal humorado. Duas vezes por semana visitava todas as instalações da fábrica e fazia anotações. Segundo ele a visita e as anotações serviam de base para os seus relatórios para a diretoria.

Tudo iria mudar depois de um pequeno acidente doméstico. Zé foi obrigado a usar uma bengala e o curativo em um dos pés, impedia-o de calçar sapatos.

Fazia frio e ele passou a usar naquelas três semanas uma pantufa, discreta, confortável, porém totalmente em desacordo com a figura que estávamos acostumados.

Impedido de realizar as visitas na fábrica foi obrigado a solicitar que um dos funcionários as realizasse em seu lugar. Escolheu aquele que a seu ver estaria melhor preparado. Explicou detalhadamente o que observar e o que anotar.

Ficou naqueles poucos minutos mais quieto do que o habitual. Aparentou com os gestos e olhares, preocupação. Levantou-se, caminhou até o bebedouro inúmeras vezes. Mostrou-se impaciente. Enfim o funcionário voltou.

Imediatamente iniciaram a conversa e ouviu atentamente como tinha sido a visita, anotou, perguntou, surpreendeu-se, em determinados momentos, pelas observações diferentes daquelas que realizava. Percebeu que havia uma forma diferenciada de observar e realizar as visitas de inspeção.

Dias depois solicitou a outro funcionário que realizasse a visita e igualmente ouviu atentamente as observações. E assim o fez sucessivamente até que todos os funcionários tivessem a sua oportunidade de participar. Finda as três semanas, Zé estava apto a caminhar sem ajuda da bengala e poderia novamente calçar sapatos.

Notou que seus últimos relatórios estavam ricos em detalhes, com inúmeras observações e “dicas” de procedimentos e de operações que jamais havia incluído ao longo dos anos. Percebeu que havia, sem deixar de lado sua habitual quietude, se aproximado de todos os funcionários, ouvia melhor, argumentava, perguntava. A elaboração dos relatórios que haviam se transformado em um fardo desagradável para ele; passaram a ser agradáveis exercícios de aprendizagem e recheados de novas idéias.

Percebeu que seria muito interessante se as visitas pudessem ser realizadas por outras pessoas e não programadas por ele; que poderia delegar esse procedimento a seus funcionários sem perda da qualidade de seus relatórios; que, aliás, estavam recebendo elogios da diretoria.

Discretamente, como é seu costume, foi a uma loja e comprou par de pantufas, colocou-as guardadas em um armário.

A partir desse dia todas as vezes que Zé chega, retira seus sapatos e calça as pantufas, todos sabem que um funcionário será o escolhido para realizar o roteiro de observação na fábrica - o nome novo das visitas de inspeção.
Zé criou a estratégia das pantufas. Continua sério, de poucas falas, mas é reconhecidamente um chefe melhor do que antes.

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